A recente decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano acendeu um forte sinal de alerta no setor produtivo do Rio Grande do Norte. Representantes da indústria, do comércio e economistas locais preveem um cenário de dificuldades, com risco de estagnação econômica, retração no consumo e aumento da inadimplência.
Para a Federação das Indústrias (Fiern), o principal impacto é a perda de competitividade. “O aumento compromete o desempenho industrial e tende a gerar uma estagnação na economia, desestimulando os investimentos e retraindo a geração de emprego e renda”, afirmou o presidente da entidade, Roberto Serquiz. Ele criticou a política monetária, dizendo que ela vai na “contramão” de programas de incentivo à indústria, como o Nova Indústria Brasil.
No setor de comércio e serviços, a percepção é semelhante. O presidente da Fecomércio-RN, Marcelo Queiroz, explicou que os setores de bens duráveis, como veículos e eletroeletrônicos, são os mais afetados pelo encarecimento do crédito. Ele citou dados da CNC que mostram que o Índice de Consumo das Famílias (ICF) no RN está em queda pelo terceiro mês consecutivo, indicando pessimismo.
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Natal) acrescenta uma preocupação com a inadimplência. Segundo o presidente José Lucena, o cenário de juros altos já se reflete nos números, com 37,8% das famílias natalenses com dívidas em atraso. “O consumidor endividado prioriza despesas básicas, e o lojista sofre com o aumento da inadimplência”, ressaltou.
O economista Thales Penha resume o mecanismo: “Sempre que o Banco Central eleva a taxa de juros, ele olha para a inflação. Setores que precisam de investimento ou capital de giro vão sentir um efeito, porque o custo de captação vai ficar muito mais elevado”, explicou, prevendo um desaquecimento geral da economia.